ANÁLISE: GOD OF WAR 3






















Meu caso com God of War data da época do Playstation 2, quando eu nem sequer possuía o aparelho e fui à casa de um amigo pra ver do que o novo console da Sony era capaz. Aliás, é engraçado o fato de eu sempre me referir às minhas experiências com os jogos como “caso”.



Geralmente eu vejo isso com bons olhos, pois é a passionalidade, entre outros ingredientes, que garante a particularidade dos meus textos. Mas é justo esse envolvimento com os jogos (o de não os considerar apenas um modo de passar o tempo nas horas de tédio) que deixa brechas pra decepções, como a ocorrida com Final Fantasy 15, me afetarem da forma como afetam.

Mas, se você é um fã da saga do espartano e caiu no Mais Um Blog de Games de paraquedas, não quer ler um texto sobre meus queixumes sobre Final Fantasy, não é mesmo?

Digressões existencialistas à parte, eu posso afirmar, mesmo tendo jogado TODOS os GOWs lançados (e platinados todos eles no PS3), que não sou um fã fiel da franquia. Eu gosto dos jogos, é claro, mas jogo mais pela qualidade da série em si do que por ser o maior de seus fãs. É um motivo difícil de explicar, mas é simples assim.

Aqui no blog, a saga de Kratos (a pronúncia é KRÁTOS mesmo, não “KRÊITOUS”, como alguns gostam de retificar) nunca ganhou um post, apesar de que eu tenha feito uma menção ou outra nesses 5 anos e dois meses de existência do site.

"Faz isso com eu não, moço. Eu juro que nunca mais chamo o sinhô de Kreitus!"

Não que tenha sido intencional. Muito pelo contrário: havia um arquivo de Word nomeado “A Saga dos Deuses” juntando poeira virtual na área de trabalho do meu notebook, no qual eu faria um apanhado de todos os jogos da franquia, de uma tacada só. E acho que tal ideia surgiu pela similaridade dos jogos em si. God of War é como Megaman: se você conhece um, conhece todos, então a estratégia de falar de cada jogo separadamente acaba meio que perdendo o sentido.

Mas, como você poderá notar ao longo do texto, eu mudei de opinião e resolvi analisar os jogos de maneira individual, começando por um dos meus preferidos da franquia. Eu juro que o fato dele ter sido relançado para o Playstation 4 (console que possui o maravilhoso recurso de tirar screenshots e gravar gameplays, uma mão na roda pra qualquer blogueiro de games) não influenciou em nada a minha escolha...

E, se você não acreditou em nenhuma das palavras em parênteses do parágrafo acima, é sinal de que está mais do que familiarizado com o ritmo do Mais Um Blog de Games, e pronto pra curtir uma descompromissada análise de God of War 3 aqui no blog. Vamos ao que interessa, então.


HISTÓRIA (8,0)



God of War 3 continua a história de Kratos, que foi sacaneado por deuses e Titãs igualmente e precisa matar geral mais uma vez pra vingar a morte de sua família. Mas usar a palavra “continua” pra descrever o enredo desse jogo é algo que não faz jus aos fatos: God of War 3 continua EXATAMENTE do ponto onde o segundo jogo termina, com Kratos escalando o Monte Olimpo no lombo de Gaia e tocando a boiada de Titãs enfurecidos pra acabar com a raça dos deuses sob o comando de Zeus, pai de Kratos e líder das deidades.

Ah, vai me dizer que revelar, em pleno ano de 2017, que Kratos é filho de Zeus é um spoiler? Se você vai fazer beicinho e reclamar disso, só posso pedir pra você falar com a minha mão esquerda, pois a direita está mais ocupada digitando o texto. Quer dizer, a esquerda também está, mas... droga, acabei de descobrir que minhas piadas não fazem o menor sentido. Continuando.

Ao chegar ao Monte Olimpo (pra ser mais exato, a escalada nem chega a se concretizar), Kratos, Gaia e os outros Titãs são derrubados por Zeus, Poseidon (nem se preocupe que vou abrir um parágrafo dedicado ao Senhor dos Cavalos, mais à frente) e pelos outros deuses. Gaia quase perde uma mão, Kratos cai no rio Estige (e leva umas dedadas violentas das almas perdidas, que o fazem perdem toda a XP que ele ganhou nos outros jogos) e a jornada do brutamontes em busca de vendeta recomeça mais uma vez.

"Zeus, vou me vingar desses pula-piratas que você me fez levar..."

Antes de continuar, queria falar uma coisa que eu sempre senti sobre alguns jogos, mas nunca coloquei em palavras aqui no blog.

Eu não estou dizendo que o enredo de GOW é ruim. Longe disso: a história de Kratos é interessante a ponto de uma pessoa que nem é fã da série jogar todos os 6 jogos da franquia sem conseguir lembrar de motivos significativos pra reclamar de sua qualidade. E lembrem-se que quem fala é um chato reclamão que aponta os menores defeitos nos jogos que joga.

Mas, assim como o já citado Megaman (e a não citada e falecida série Castlevania), existem jogos que o jogador não dá muita bola pras consequências do enredo, ou como tal evento poderia ter mudado todo o rumo da franquia. Jogos como God of War, muito embora que não brilhem no fator originalidade, exibem um clarão de supernova nos quesitos jogabilidade e diversão.

Então, pouco me importa se os roteiristas precisam inventar uma desculpa esfarrapada pra Kratos perder (quase) todas as suas habilidades, e ter que galgar sua chance de vingança matando harpias de nível 1 pra acumular XP. Os jogos da franquia GOW são tão bons, e prazerosos de jogar, que detalhes como esses simplesmente configuram como um saldo de guerra positivo em troca da chance de jogarmos mais um excelente episódio da série.

Se você se surpreendeu com essa cena, só pode ter nascido ontem.

Pois bem, partindo pras considerações sobre o enredo em si: God of War 3 é o jogo que vem pra encerrar a história de Kratos. Ela começa no primeiro jogo, é claro, com a sede de vingança contra Ares (que “traiu” Kratos e foi o responsável indireto pela morte da família do guerreiro). No segundo jogo quem foi pego pra Cristo é Zeus, e a terceira parte dessa história se foca inteiramente nisto: Kratos começa prometendo que Zeus não viverá pra ver a luz do dia seguinte, e é isso que o jogo se propõe a entregar ao jogador.

Por causa de um enredo direto e objetivo, alguns jogadores enxergam Kratos como um personagem unidimensional, praticamente um Pokemon que só sabe rosnar e repetir a palavra vingança. Como não sou um fã da franquia, tampouco um fanboy, posso tecer algumas opiniões menos enviesadas a esse respeito.

Eu não acho que Kratos seja o melhor ou mais carismático dos protagonistas de um jogo. Algumas de suas decisões são baseadas em pontos de vista completamente tendenciosos (o cara é um general virulento que implora a ajuda de Ares pra não perder a batalha contra os persas mas, depois que as coisas dão errado, ele quer culpar Ares pela sua sede de sangue?), e eu confesso que não consigo sentir muita simpatia por sua “pessoa” e motivações.

Foi isso que aconteceu com a última pessoa que questionou as ações de Kratos.

Mas danem-se as análises psicológicas acerca da psique de marombados cobertos de cinzas: Kratos é a efígie do protagonista fodão dos games, que chuta traseiros (não importa se são divinos, demoníacos ou humanos) e arregaça entranhas como quem come uma rosquinha no café da manhã. E pra mim (e acredito que pro gênero do hack ‘n Slash) isso basta.

Concluindo este tópico: God of War 3 é um jogo que cumpre o seu papel, que é o de finalizar uma franquia colocando todos os pingos nos is, dando nomes aos bois e amarrando pontas soltas que deixem brechas no enredo. Kratos obtém a sua vingança, descobre que suas ações tiveram um impacto maior do que ele mesmo imaginava e alcança a redenção de seus erros, realizando um último ato de altruísmo em favor da humanidade tão castigada pelos caprichos dos deuses.

Claro que eu fico feliz com o anúncio do God of War 4. Quanto mais GOWs forem lançados, maior a possibilidade de saírem jogos com alta qualidade de produção. Mas eu, muitos anos antes desse anúncio, sempre achei que a franquia poderia se concentrar em outras mitologias, como a nórdica, por exemplo. Vou além: eu acho que os roteiristas deviam largar o osso, dar a história de Kratos por encerrada e focar a série nas histórias de outros protagonistas, especializando a franquia em retratar a luta de pessoas comuns contra as injustiças cometidas por entidade superiores.

O que o futuro reserva a Kratos e sua eterna busca por chutes em traseiros divinos? Só os deuses sabem. Mas, caso GOD 4 seja uma bomba (coisa que eu duvido muito), eu me contentaria com o final escolhido pra franquia neste terceiro jogo.


GRÁFICOS (10,0), SOM (10,0), SISTEMA (...) E JOGABILIDADE (9,0)



Certo, vamos organizar as ideias e reparar em uma marca alcançada por God of War 3: acho que ele é o primeiro jogo analisado no blog que levou duas notas máximas em dois de seus aspectos técnicos. Então, pra não ficar parecendo uma bajulação sem razão de ser, vamos por partes.

A parte do sistema eu não tenho literalmente NADA pra falar. Se você jogou o primeiro jogo, ou assistiu a alguém jogando, eu não preciso escrever nenhuma vírgula a mais de texto: Kratos ganha XP (chame de orbes vermelhos, se quiser) pra evoluir suas armas e habilidades; coleta itens pra aumentar suas barras de energia e mana; e possui uma variedade quase desnecessária de combos e movimentos de luta.

Só pra não corroborar a mentira de que eu realmente não tenho nada pra falar do sistema (eu SEMPRE tenho algo pra falar sobre TUDO...), posso atestar que as habilidades de Kratos (aquelas usadas com relíquias, como o arco e a cabeça de Helios) funcionam de forma mais que satisfatória, visto que é possível utilizar todas elas ao mesmo tempo com meros atalhos no controle (a mesma praticidade é vista na troca de armas).

O bom e velho sistema de perfurar os rins de criaturas mitológicas com as Blades of Alguma Coisa...

Aos gráficos do jogo, eu tenho uma reclamação a fazer. Não sobre os visuais, que são perfeitos em um nível quase redundante de elogiar. A queixa é com relação à versão do PS4, que não exibe o jogo em tela cheia (é por isso é que as fotos deste post estão com essa estúpida moldura preta). Nem quero saber se o jogo roda a 60 FPS e full HD, e por essa razão ajustes tiveram que ser feitos. Eu simplesmente não dou a mínima pra esses detalhes técnicos. Só acho que um jogo que rodava lindamente a 720i no PS3 não precisava ser alterado em nada pra agradar na versão de PS4.

Agora vou ser redundante ao elogiar, como eu havia prometido. Os visuais de GOW 3 são coisa de outro mundo. Eu sei que sempre uso frases como “tem muito jogo de PS4 que queria ser tão bonito quanto o jogo X” pra gerar um efeito no leitor. Mas, nessa ocasião, eu preciso variar um pouco meu vocabulário de frases de efeito manjadas: TEM MUITO JOGO DE PS4 QUE NÃO SE COMPARA A GOW 3, VISUALMENTE.

Não é exagero não. Abaixo eu vou colocar a janela do vídeo da introdução do jogo, na qual somos apresentados ao deus Poseidon. Mas já vou adiantando: uma sequência de introdução que é capaz de atrair a atenção do meu gato (o bichano parou na frente da TV e ficou olhando o movimento, hipnotizado...) talvez seja um indício do quão GOW 3 era um jogo de vanguarda, já em 2010 (ano de seu lançamento).



God of War 3 traz uma das introduções mais impactantes e derrubadeiras de queixo que eu já vi em um game. Ela dá o tom dos gráficos absurdos que veremos em todo o resto da aventura, além de ser bem-feita a ponto de mobilizar uma boa parte do estúdio do jogo para torná-la possível de ser realizada (há um documentário de bônus que detalha como foi feita a fantástica animação do cavalo de água).

Além de proeza técnica, a introdução desse jogo apresenta uma das maiores características da série, que seria elevada um outro nível neste terceiro jogo: A EXTREMA VIOLÊNCIA DE KRATOS.

Se você se barbarizava com o tratamento que o espartano dava a minotauros, medusas e outros seres mitológicos nos jogos anteriores, passe longe desse aqui. Dessa vez a sanha de Kratos rompe as barreiras do aceitável e da perspectiva em terceira pessoa, apresentando o barbarismo do Fantasma de Esparta do ponto de vista das suas vítimas (como na parte em que pressionamos L3 e R3 pra cegar Poseidon, logo no começo).

Um dos chefes mais impressionantes na história dos games.

Isso sem falar no choque que algumas cenas causam, pela sua crueza brutal e realismo gráfico propriamente ditos: tripas de centauros desabam no chão, depois de conhecerem as Lâminas do Exílio de Kratos. Cortes profundos ficam eternizados na pele de górgonas, quimeras e outros seres que ousem cruzar a trajetória de vingança do filho bastardo de Zeus.

O rosto do campeão do Olimpo é golpeado ao extremo do irreconhecível. Tendões, músculos e pele são separados do pescoço daqueles que cometem o erro de tentar ludibriar o deus caído da guerra. 
E assim segue a trilha de fúria e sangue, até que o botão círculo pare de ser pressionado, resultando em uma tela completamente escarlate, representante do sucesso de guerreiro em sua missão.

Aos de estômago fraco, fica a dica: não jogue. Se não aguenta, não jogue. Àqueles mais dados a mimimi e à censura de gostos alheios aos próprios, fica o numeral 18 estampado na capa do jogo. E a vida segue feliz muito bem obrigado, em seu tom mais violento e carmesim que é a realidade retratada no universo da série.

Confesso que até eu fiquei impressionado com a violência dessa cena.

Uma trilha e efeitos sonoros que conseguem estar à altura de um dos melhores visuais da geração passada não merece outra nota que não a máxima. As músicas presentes no jogo conseguem passar grandiosidade, perigo, catástrofe e maestria na mesma proporção dos eventos que são mostrados na tela.

Mesmo que eu não curta muito a dublagem de Kratos, que eu achei meio forçada desde o primeiro game (assim como a eterna carranca de revolta que ele sempre exibe na fuça), não tem como achar falhas nos aspectos sonoros desse jogo. O tema de Kratos, e da série, ganha um novo fôlego, a ponto de virar meme de internet (vídeo abaixo) e entrar pra história dos games como um dos mais memoráveis da indústria.




Sobre a jogabilidade, existem alguns problemas. Muitas vezes os ângulos de câmera não ajudam, e em vários momentos o tempo para realizar o pulo duplo (ou seria voo duplo?) parece ter sido alterado, com relação aos jogos passados. Também existe um problema de mirar no inimigo errado, e a teimosia de Kratos em tentar agarrar oponentes que não permitem tal ação (ao invés de agarrar o que você mandou), mas acho que essas queixas dizem respeito a toda a franquia, não se limitando apenas a esse jogo. Também creio que esses problemas de jogabilidade dependem muito do nível que você escolheu, visto que joguei “apenas” no Hard (Titan) e não tive muita dor de cabeça nessa última partida.

Comam as próprias cabeças em desaprovação, ó feministas: Kratos trata monstros
de forma totalmente democrática, não importa o gênero.

Pra finalizar, God of War 3 é um dos capítulos da saga com menos partes chatas pra se transpor, muito embora que haja trechos bem insuportáveis, como aqueles do super Kratos (que temos que voar ou cair por túneis cheios de pedras). De fato, alguns podem até dizer que o jogo é o mais fácil de todos, visto que uma boa parte dos inimigos podem ser mortos com o comando de agarrar do botão círculo (harpias, escorpiões, soldados rasos, cachorros...). Os famosos QTEs, tão característicos da série, também foram bastante suavizados e facilitados, visto que agora cada comando aparece na respectiva posição que ocupa no controle (triângulo sempre vai aparecer em cima, círculo à esquerda...).


CONSIDERAÇÕES FINAIS



God of War 3 é um jogo magistralmente executado. É um daqueles exemplos que sustentam a guerra de fanboys de consoles quando se fala em qualidade de exclusivos.
Era um jogo que, mesmo em seu lançamento, já deixava claro que estava muito à frente de seu tempo, tecnicamente falando: o jogo exibe efeitos que só seriam vistos na geração seguinte, como iluminação dinâmica de verdade, efeitos soberbos de água, sangue dos inimigos manchando o corpo do protagonista, entre outras deliciosidades.

Claro que não estamos falando de um jogo perfeito: muitos consideram God of War repetitivo em suas mecânicas, com um jogo atrás do outro oferecendo mais do mesmo com leves graduações de melhoria gráfica. Há línguas ferinas que chegam a acusar o jogo de extrema facilidade, que pode ser finalizado com o massacrar do botão quadrado. Mas isso passa longe da verdade. Quem jogou em um nível mais alto que o Easy sabe que é preciso estratégia nos combates, domínio de esquiva e uso racional de habilidades para não virar ração de minotauro. Sem falar nos enigmas, que podem significar uma verdadeira pedra no sapato daqueles que acham que Kratos só sabe matar e fazer cara feia.

NOTA FINAL: 8,9

God of War 3 não é o melhor da série, eu tenho ciência disso. Ele não inova em nada a fórmula; traz uma progressão com uma repetição de ambientes que pode cansar aqueles mais acostumados à jornada mais linear vista no primeiro jogo; e para muitos veio a tempo de encerrar a franquia quando ela já estava começando a dar sinais de cansaço. Mas é justamente aí que o jogo prospera: God of War, desde o primeiro, nunca foi sobre histórias originais embaladas em mecânicas inovadoras de jogo. Mitologia grega, QTEs e hack ‘n Slash já não eram novidade em 2005, quando a série estreou. O que atrai nos jogos criados pelo Santa Monica Studios é a execução quase perfeita com que ela entalha suas criações na indústria. E essa qualidade GOW 3 entrega com maestria.

É homem com homem, mulher com mulher, pai matando filho... Esse mundo tá perdido mesmo!

E é isso, folks. God of War é o tipo de jogo que não costuma render laudas detalhando inimigos, enredo e outros de seus aspectos. Até pela qualidade homogênea que a série apresenta em seus títulos. Por essa razão, eu não sei dizer se vou chegar a analisar os outros jogos (quem sabe na ocasião de lançamento do GOW 4?), até pela dificuldade em conseguir fotos e vídeos dos momentos exatos que eu gosto de retratar nos posts (não há nenhum indício de que a Sony pretenda lançar os outros jogos em HD no PS4, e eu não terminei a faculdade de engenharia da computação necessária pra capturar imagens e vídeos direto do PS3).